domingo, 29 de abril de 2018

Ao espírito dos pobres


fotografia de Soraya Moon



Ás vezes as paredes não estavam vazias
Escutava-se uma respiração familiar
Um perdão distante que alterava o rumo
Do vento, das pedras, das casas
Da vista que se escapa dos olhos
Para longe, e as paredes vazias
Surgiam no alto do campanário
Fechava os olhos com força
Á espera da ausência do tempo
O ar estarrecia, claro, altivo
Frio, e eu sozinho, inteiro
E na parede um riso de criança
Arrastava a mão para lado nenhum
E um dia cairá uma chama
Alta, do alto das campainhas,
Como um aviso, e a memória efervescente
Acenderá todos os lugares
Os campos a arder e as crianças a dançar
Sob o jugo do fogo e a habitar as paredes
Evocarão um nome que ninguém conheceu
E eu poderei rir, e a minha respiração
Há-de ser familiar, os cabelos o trigo
A palavra o ar.

André Consciência