quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Mercury Stained



"In that year there was
an intense visitation
of energy.
I left school & went down
to the beach to live.
I slept on a roof
At night the moon became
a woman's face.
I met the Spirit of Music."

Jim Morrison

domingo, 27 de dezembro de 2009

Sobre as Cinzas das Estrelas


Rio Guadiana - Isabel M.

Atégina, coroada de astros, silente senhora da terra,
Lua fervente nas águas sulfurosas da montanha,
Quando a vós os anjos falam a noite é bela e iluminada,
A terra treme, e a treva circunda o coração do homem.

Horned Wolf

sábado, 26 de dezembro de 2009

Fénixterra

Dedicado à Finisterra e a O Bar do Ossian

O Sonho de Ossian - Jean Auguste Dominique Ingres


A tua face é o segredo das nações,
O teu olhar estende-se através das constelações,
Senhor dos Órfãos, Senhor dos Mortos,
Os meus olhos são cegos e eu perco-me na multidão,
O sofrimento das Eras é um colosso nos meus ombros.

Fénix do meu sangue, sou um templo que tu habitas,
A minha carne a tua essência, criatura
De Mar e Sol.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

La Mort Transfigureé


La mort du fossoyeur - Carlos Schwabe


Vem, meu anjo de luz, que sobrevoa o meu deserto, que coroa o Universo, lado a lado esmaguemos a oposição ao triunfo do Amor, da Liberdade, da Sabedoria, da adoração.
Caiam os pilares da restrição, ardam as falsidades da política e da religião e os laços de rancor que envolvem homem e mulher no inferno da ignorância.
Vem, Senhor do faixo brilhante, e penetra-me como uma serpente ondulante, no Amor, êxtase que tece a Vontade.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Corda


Adoração dos Magos - Domingos António de Sequeira


A solidão não pisa a linha que o rio
Sobranceiro à civilização, sombreia
Tal como não conheço a forma que a Lua
Desenha sobre o oceano para lhe arrancar
Com canção, as bordas.

Procuro as palavras que descrevam
Não haver barco que não a maré
Nem a montanha com o sopé.
E com palavra e som, pensamento,
E dom, faria esculturas, e deuses miniaturas,
Mas eu não tenho pincéis por tinta
Ou mãos que não sejam toque.

No meu corpo, existe ser os corpos
Que se atraem e repelem, se amam
E velejam o precipício do esquecimento
Para que cada rosto se devore em momento.

Na minha voz, existe o silêncio da vaga
Dantesca e atroz, que engole amantes sós.
No meu gesto, existe a lamuria da sereia
Despida de Lua e nua, nua, no meu passo de dança.

André Consciência

sábado, 12 de dezembro de 2009

It's Full of Stars...


Autumn In Paisley - Stars of the Lid


Procurei o contorno da tua nuca
De manhã, a tua respiração
Na árvore. Os poetas descansam
A sombra é tão fresca
Que num quadro chega a ser canção.
A felicidade dos outros
Em mim, eu procurei.
E desejava não saber, que há mais
Do que tigres na neve ou crianças
Que brincam na erva.
Desejava que o lápis não desenhasse
Mais que paisagens, não fosse
Parar aos sonhos das primeiras luzes
Das quais pisamos a cinza
Com um infinito sufoco nos lábios.
Ah, e a alma uma cruz, um turíbulo
De memórias apagadas, em brasa
Os rostos todos do mesmo incêndio
A estender os braços ao alivio
Da morte.

Sossego, ao parapeito das estrelas
E fico a ver a vida de tanta gente
E tudo o que passa não tem nome.
Ninguém se lembrará
Do pólen que caiu dos vossos beijos,
E do que as flores fizeram sorrir.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Boca do Mar Comeu o Lobo


Adam and Evil - colagem e manipulação de Babalith


Dos musicais carroceis da felicidade com todos os seus precipícios, o feiticeiro retorna aos lodaçais do abismo e, lentamente, volta a crescer nele a pele de tubarão. Dorme um sono lesto e de rebeldia. Acorda cheio de piolhos falantes e persegue os seus sonolentos dias numa tentativa suicida de se separar de si mesmo para se tornar a si mesmo. Vomita tudo o que os homens, nas suas prisões lá em cima, com horror guardam. Coça a pele e volta a adormecer, sonhando sobre mares traiçoeiros. Deixa-se visitar por um hermafrodita no qual tudo quer tocar e nada o pode conseguir. O hermafrodita brilha, porque tem sangue forte de anjo. Ao feiticeiro quase que o hermafrodita aparenta o perfume da sabedoria, não soubesse melhor. Jogam xadrez e o hermafrodita repara que o feiticeiro tem muitas cicatrizes. Lança, não sabendo o que é ser homem ou mulher: “Qual o maior desejo humano?”. O feiticeiro responde com a ruína. O metade-anjo: “Não será ruína, em vez, o seu maior medo?”. O feiticeiro procura rir-se, mas a sua boca é uma cicatriz que nunca se fecha e por isso nunca se abre. “É de supor que a procura humana é pela felicidade, mas a ruína abate-se irremediavelmente sobre a sua condição, asfixiando-a. É, sim, na morte que o homem encontra satisfação e no seu prolongamento que ele encontra a felicidade por manifestação do amor. A isto vem substituir a ruína, ou a espuma da vaga, a espuma da vaga cria a pele do grande tubarão.” Coça-se e continua: “Um dia, o próprio homem, alimentando-se de pedras, se tornará pedra e ruína, para conhecer, quieto, os ventos e a terra e os céus. A seguir, será chama, e sem apagar ou queimar o seu corpo negro. Não, o desejo maior do homem é a ruína, é sobre isso que canta o amor sob o engodo quer do sofrimento quer da felicidade.” O hermafrodita sorriu, com uma inocência eterna e virgem. Não sabia jogar xadrez mas gostava de brincar com as peças. “E a História?” Perguntou. “O que tendes com a Historia?” Ripostou o feiticeiro. “A História ergue-se sobre a ruína.” Depois das palavras do hermafrodita, o feiticeiro grunhiu: “Mero rasto de cinzas, e a sua posterior disposição ao vento. Nada lá se encontra a mais do que na contemplação das mutáveis e insubstanciais nuvens no Outono ou na Primavera, pois tudo o que está abaixo dos céus não lhe é superior, excepto quando da espuma da vaga se cria uma ruína que lhe sobrevive, por quanto tempo sobrevive.” Enquanto escutava o feiticeiro o hermafrodita engoliu uma torre. Riu-se com canção. “O que é que isso interessa?” O feiticeiro riu-se, rouco. “Não mais do que um grito na penumbra, caro hermafrodita. Não mais do que um grito na penumbra.”

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ruínas


Must Have Been Love - Babalith


Relacionei-me com homens que foram virtuosos. Morriam aos sessenta anos, e ninguém deixava de exclamar: "Praticaram o bem na Terra, ou seja, praticaram a caridade: e só isso, nada de mais, qualquer um pode fazer o mesmo." Quem compreenderá porque dois amantes que se idolatravam na véspera, por uma palavra mal interpretada, separam-se, um para o oriente, outro para o ocidente, com os aguilhões do ódio, da vingança, do amor e do remorso, e não voltam a rever-se, cada um envolto do seu solitário orgulho. É um milagre que se renova a cada dia, e que nem por isso é menos miraculoso. (...) Coveiro, é belo contemplar as ruínas das cidades; mas é mais belo contemplar as ruínas dos seres humanos.

D'Os Cantos de Maldoror, Lautreamont

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ilha Peito


Na Terra dos Sonhos - Mariah


Há uma terra a leste do coração,
meu amor,
para lá dos mundos naufragados,
à esquerda da esperança.

Um lugar onde o veneno da medusa
é bebido em cálices nocturnos,
e onde os adolescentes
nadam
com os primeiros golfinhos da manhã.

Não tem nome nem mapa nem rota,
é uma terra de vento e luz,
onde Deus está por inventar,
e o Demo não desembarcou ainda
com as suas filhas de prata.

É uma pulsante ilha no meu peito,
escuta-a, amor,
a terra onde poisarás a fronte,
e onde uma noite apenas
dura todo o sempre.

João de Mancelos, em Alma Azul

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Lira Insubmissa"


Retrato de Abel Acácio Botelho - António Ramalho

Primeiro Fragmento:

1 - Trabalhar em equipa é semelhante a viajar em vela pelo mar, estamos dependentes dos ventos, ou seja, dos humores e condições de todos os elementos que a compõem.
2 - Trabalhar sozinho é semelhante a viajar com barco a motor, a desvantagem sendo a necessidade de suportar os custos da gasolina.

3 - Um problema assola as camadas mais maduras entre os intelectuais, à medida que a sua maturidade e com ela a sua racionalidade, cristaliza, assim a sua sabedoria diminui, na mesma medida em que perdem o discernimento no que respeita à sua própria estrutura. Os seus vícios, deixam de os ver, o motivo sendo simples, e que explicaremos no problema da razão:
4 - O "raciocínio" é um instrumento de excelência que permite a organização, sistematização e estruturação das "coisas" (para englobarmos tudo o que é ideia e emoção, acto e situação) vindo todavia com a mesma problemática que afecta a modernidade (já lá chegaremos). Procura justificar-se e bastar-se a si próprio, procura ser tanto causa como efeito, o motivo motor, a rota e a conclusão. Nenhuma motivação humana, nem uma, é de natureza racional - a razão analisa, não cria. Uma vez mergulhado a fundo na razão que o ignora, o ser humano está trancado e a chave fora deste idealismo, deste sistema, permanecendo inacessível.
5 - Este idealismo, ao contrário do que se possa pensar, faz parte do aspecto negativo da modernidade - aquele de se seguir luzes falsas. O idealismo dos dias de hoje é o informatismo que veio substituir o industrialismo dos dias de ontem. As ideias abandonaram a substância, não a possuem mais do que um placar electrónico, com uma paisagem paradisíaca e uma bela mulher nua. Estão a tentar distrair-nos para não escutarmos a voz das coisas, a voz dentro da voz dos que falam e do silêncio do que está calado - porque cantar a natureza dessas coisas, isso sim, e só isso, causaria uma verdadeira revolução para o estado (situação) moderno. Uma revolução, primeiro, em consciência e do indivíduo, e depois o mundo, com uma alma, abrir-nos-ia as portas.
6 (a) - Um exemplo das coisas tornadas em falsa substância, e da flagrância do truque moderno, está na consequência do guerrear dos hippies - e associações de direitos humanos que batalhavam nessa época - pelas liberdades sexuais - nudez, sexo antes do casamento, amor homossexual, mais liberdade para a mulher, etc - hoje feito em reclames de TV e videoclips de venda, estampado em embalagens de tudo o que é consumível ao ponto do sufoco da dimensão profunda no que respeita ao assunto sexual, tornando-o mecânico e despido de significado. Antes, o significado de todas as "coisas" modernas é estas serem consumíveis, ficando assim não menos virtuais que a moeda. De igual forma ao que explanamos respectivamente à tendência da razão, também o capitalismo se fecha nessa máxima, e procura ser tanto causa como efeito, o motivo motor, a rota e a conclusão.
6 (b) - Falando alegoricamente, e agora de um anjo como esfinge: A todos impõe um teste (sem sair ainda do campo da intelectualidade) - o da luz e o da escuridão, o de depois da luz ser escuridão enquanto depois da escuridão há luz. O caminho para o Éden só se abre de Noite, e esta é uma parábola dirigida aos idealistas.
6 (c) - Quando os ideais esquerdistas e os ideais liberais se expurgarem de todo o materialismo (mito e doutrina, nunca pedra e rio e pão), serão dignos do respeito dos sábios.

7 - Quando somos adolescentes, o amor olha-nos nos olhos e do seu hálito inalamos a morte, então, a morte está em tudo e em tudo está a sede de viver. Antes existe vida, sem nada se interpor entre si própria.

8 - Há no homem o ser-se bobo, e hoje começa a descobrir-se que não existe corte, indo então este homem à procura de rir-se de si próprio e ser bobo duas vezes, numa suposta ascese que desemboca em lado nenhum. Mas isto só os bobos, ou quase só os bobos, o sabem.


Horned Wolf

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Promessas 4 ***


Partida das Bruxas - Luis Ricardo Farelo


"Parecia que entrara nele uma parcela da fascinação amorosa daquela mulher, assim como no ferro entra um pouco da virtude do íman. Tratava-se, verdadeiramente, de uma sensação magnética do prazer."

"O homem sentia a presença da mulher deslizar e misturar-se no seu sangue até ao ponto deste se tornar a vida dela, e o sangue dela a sua própria vida."
G. d'Annunzio

"Quando me uno a uma mulher a percepção através do sangue é intensa, suprema... Dá-se a passagem não sei exactamente do quê, entre o seu sangue e o meu, no momento da união. De tal modo que, mesmo que se afaste de mim, permanece entre nós esse modo de nos conhecermos através do sangue, mesmo que se tenha interrompido a percepção através do cérebro."
D.H. Lawrence

"O sangue é o grande agente simpático da vida, o motor da imaginação; é o substrato animado da luz magnética, ou luz astral, polarizadas nos seres vivos; é a primeira incarnação do fluido universal, é a força vital materializada."
Eliphas Levi



How We Became Fire - Moonspell

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A Morte Comer Para Viver


Ruínas do Convento do Carmo - Wolf38


Sento-me no chão frio deste mosteiro, que foi barrado a cimento pelas portas e de onde brotaram as sementes daqueles depois de mim.
Reconheço, aqui na escuridão em que a minha sombra é o pátio e depois do pátio o mundo e a seguir para dentro do mundo, ser um destroço perdido dessa penumbra móvel, que sou um fruto da árvore branca da ignorância. Em todos nós, que cantámos neste solo regado, doentes com o medo e o nosso medo cheio de criação, a amável memória do caos no rosto d’Ela, que o Inverno sepultou de brancura e gelo. No fundo de todos nós, doentes com a organização, como uma flama albina dentro do espelho, a saudade. Geração após geração este esquecimento pueril. Do medo do escravo construimos o temor do guerreiro. Da saudade inútil esculpimos poetas e lançamos-los para fora destas paredes. Edificámos um forte contra a poluição da tua indiferença. Envelhecemos e morremos incontáveis vezes, fortalecendo as paredes com os nossos ossos.
Uma noite, a maçã caiará sobre este caixão de cristal quebrando-o todo, as canções da Lua serão Carne. Depois, o Mundo não será uma esfera, mas será uma continuidade de mundos.


Horned Wolf

domingo, 22 de novembro de 2009

A Sede


Rede de Esgoto

A tez negra da pele. As expressões. Peculiares. Os barcos europeus. Ficam encalhados na costa. Maciços. Na areia. A sonoridade enrolada da água. Os vidros. Cordas. Pele queimada. Luzidia. Pele de negro. A corda. Esticada. Quase rompe. Linhas. Linhas que são feitas de homens, os homens todos feitos de músculos. O vento puxa para um lado. Os homens puxam para o outro. O vento. Não possui rosto. Não tenho pé aqui. O vento. Não possui assobio. Observo nas ondas. Martelos quadrados. A ferrugem. É o estuque dos barcos. Os homens sentam-se parados. Absorvem o sol. As mulheres dançam em procissões, com pedrinhas de muitas cores que soltam tons que eu não ouço. Os olhos das mulheres brilham. Verdes. Pálpebras núbias. Reconstroem os barcos. Os europeus não lhes podem roubar a mãe. Os europeus não lhes podem roubar o mar. A não ser que electrifiquem também a rede marítima. Não consigo sentar-me tanto tempo como eles, quieto. Com o Sol. Treinei. Na Europa. Treinei. Treinei horas de meditação. Treinei horas de posturas. E não consigo ficar parado como eles. O próprio acto de estar parado inquieta-me. Como um movimento. Irritante. Merda. O rapazinho. Os meus lábios não sorriem. Movimento de sucção constante. Sorvem ar queimado. O rapazinho e o lenço que ata à volta da cabeça bonita dela. Que prende perto da nuca formosa dela. Ela. Ata-lhe tranças. Depois o lenço. Na praia. De noite. Poetas mortos no rochedo. Observo nos espelhos. Ardor nos globos brancos. O perfume dela. As minhas narinas uma queimadura. Carne podre. O perfume dela: ondas do mar. O perfume do mar. Barcos. São barcos de madeira. Quebrados. Urram. Ele. Urram. Ela. Gestos. Gesticulam como bárbaros. Planeiam comandar os barcos fantasmas. Ele sente-se feliz. Ele vê-a a rir-se. Ele vê as estrelas e o som das estrelas no silêncio dos olhos alegres dela. Alegres. Sonhadores. Pega numa cana. Ela. Faz serpentes na areia. Vê o som do cano que rasga a praia. Ele. Pega numa cana ele. Faz círculos para apanhar a serpente. Um pequeno. Ela. Evita. Maior. Outro maior. Ela perfura. Ele ri-se. Ela ri-se. Mãos. Dedos. Ele a adorar os dedos. O rapazinho. Que os dedos dela são os dedos mais bonitos que viu. O olhar dela é mil abraços. Quentes. Como sopros quentes. No inverno. O cheiro da madeira podre. O armário. O grito mudo da carne putrefacta. Um grito de revolta. Contra a morte. A vida. É liberdade. Ele. Pega numa cana. A casota em ruínas perto do entulho. Riem-se. Ele. Conta uma estória. Uma estória: vivia ali um eremita muito sábio que aprendeu todos os mistérios do universo com um caranguejo. Ela, continua uma estória. Beijam-se. Beijam-se. O barulho entaramelado dos bichos da madeira. Lutam com as canas, à espada. Ele ganha sempre. Depois. Abre os braços. Sacrifica o coração. O sorriso dela. Golpeada. Depois da derrota. Os canos do esgoto. Cortam a praia.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Espelho

The Cyclops - Odilon Rendon


Se, durante demasiado tempo, fixamos o espelho, o nosso corpo é invadido de uma dormência.

Os nossos olhos incendeiam-se, e o nosso corpo não conhece as labaredas.

sábado, 14 de novembro de 2009

O 13º Cavaleiro de Vénus


Alma a Vagar na Pradaria - Guilherme de Faria


O cavalo golpeia o rio
Branco como o Sol
Nunca foi montado
E nunca atravessado.

De noite, o cavalo dorme
E sonha, os banquetes de homens
Perdidos na fluidez
Do chão.

O cavaleiro monta a morte
Negro como o breu
E da Lua, vê a sorte.

Se o Sol o acorda, com a brisa
Não se lembra da sua donzela
E as suas mãos são pedra selada
Contra rosa.

Vai, depois, uma morte
Acender tantas
Que a inocência oculta
E o azul sepulta.

Agora o lago, sacia
Bandos de cavalos selvagens.
O céu trespassa os exércitos
Vertendo penas, são carcaças.

Horned Wolf

sábado, 7 de novembro de 2009

Ó Poesia Sonhei Que Fosses Tudo


Tudo é Vaidade, Charles Allan Gilbert


Ó Poesia sonhei que fosses tudo
E eis-me na orla vã abandonada
Uma por uma as ondas sem defeito
Quebram o seu colo azul de espuma
E é como se um poema fosse nada.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Colheita


Rússia durante a Fome de 1921-1923


Aproximam-se, da falésia
Com paz nos cadáveres
As crianças, e curam
A crença da tortura
Numa dança.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ninguém, a Terra

Dedicado a absolutamente ninguém


Eu e o maldito Cais do Sodré

A Lua, na minha aldeia, é sempre grande, e faz uma rota igual todas as noites. Saúdo o Sol quatro vezes ao dia, e sei o seu percurso exacto. Na minha aldeia as estrelas ainda não estão poluídas. Sei de cor o crescimento da vegetação, quando a queimam, ou a cortam e aparam. Sei de cor o canto do corvo, e dos pássaros que se aninham no meu telhado e deixam cair palha pelas frestas das paredes. O mocho, os morcegos. A minha aldeia não tem muros, só planuras, e depois o meu terraço decorado com estatuetas de corujas e rodeado pelas trepadeiras. Sei de cor o movimento das trepadeiras, por isso parecem estar sempre paradas, como a Lua, o Sol e as estrelas. Até os cavalos parecem estar parados, se galopam. Os porcos e as ovelhas. A minha aldeia é um túmulo aberto e ninguém a visita. Na minha aldeia moram idosos e, de todos os estabelecimentos comerciais, existem somente cafés, onde se juntam com conversas sobre mulheres e a juventude que passou. São sempre as mesmas pessoas e também estão paradas. Conhecem-me de cor, o meu vulto vestido de negro. À noite, sento-me sempre só e não gosto de conversar, embora sorria de quando em vez ao ouvir algum disparate divertido. Ninguém me incomoda. Tornei-me na minha aldeia. Não sou outra coisa, quando saio da minha aldeia sinto-me a viajar entre sombras, sendo uma sombra. Os habitantes da minha aldeia são como as árvores da minha aldeia, são parte do terreno e não pessoas. Lá fora, por vezes, quando as bocas se beijam, as sombras, a minha e a outra, parecem tocar-se, numa ilusão da alma. Depois tudo volta a ser terra e folhas ao vento, como sempre foi. Terra e folhas ao vento na minha aldeia.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Darkcell"



Não voz, no campanário
Para descrever a mudez do poeta
Que se aquieta, na viuvez
Dançada pelo bobo, castelo de cartas
Gracejando a sua queda,
Entre todos e nos quartos
De luz acesa nas noites apagadas.

sábado, 31 de outubro de 2009

Casa de Sonho


In Every Dream Home an Heartache, Fields of the Nephilim


De semblantes estimulados,
Os braços envolta de mulheres
E a luz cintila, que entra
O céu gelado, o chão morno
E toda a luz cinzenta é pele
Se as árvores soltam chuva
E as cabeças habitam lâminas
De perfume, e todo
O cinzento é pele de manhã.

Agora isto, gritos em casas de sonho,
De paredes mornas e tectos quebrados
A deixar entrar os pés frios de uma cabeça
Cheia de balas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Casa de Jaguares

Ishtar, por Vian Sora


A Procissão dos Deuses, nesta terra, deve ser feita entre leões, porque o poder da fome habitou os leões, e não contra os leões, por isso, os leões conhecem o amor e são o símbolo de Ishtar. O Homem Real está Nu e monta sobre quatro Leões; devora os quatro bois.

Pazuzu (que espalhava a fome), tantas vezes temido, que caminha como um homem mas possui o corpo de um Escorpião e uma face de Leão (asas repletas de penas), era, na Mesoptamia, um protector contra o Demónio, Lamashtu, que trazia a doença.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Vénus Reflectindo Cisnes

Dedicado à Marta


Cisnes Reflectindo Elefantes, Salvador Dali


A neve na língua solta
Desfaz o tempo.
É crepúsculo, e a água
Do teu corpo, reflecte
O chão.

Quantos cisnes voam, no teu riso.

O teu olhar cobre-se
Da simplicidade dos flocos
E a eternidade move-se
Efémera, uma figura de ti.

Quantos cisnes voam, no teu riso.

As criaturas brilhantes
Que são os dias bailantes
Levantam-se da tua noite
E brindam as asas
Que vão dar a todas as costas.

Quantos cisnes voam, no teu feliz adormecer.

Cansados, os corpos misturam-se
Com a noite, e o frio
De todos os ribeiros celestes
Na pele que vestes.

Quantos cisnes voam, no teu feliz adormecer.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Círculos Azuis

_C_r_i_a_n_ç_a_,_ _v_ê_,_ _e_s_t_a_ _m_o_r_t_e_ _q_u_e_ _n_o_s_ _d_e_u_ _v_o_z_ _d_e_ _t_i_g_r_e_s_ _m_e_s_m_o_ _s_e_n_d_o_ _h_o_m_e_n_s_,_ _q_u_e_ _n_o_s_ _d_e_u_ _f_o_m_e_ _m_e_s_m_o_ _q_u_a_n_d_o_ _é_r_a_m_o_s_ _a_n_j_o_s_._



Algol, Last Minutes of a Dying Star

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Promessas 3 **


Mesh-ki-ang-gasher (small), Babalith, 2005


"Tu deixarás os teus sentidos como que desprotegidos, sem nada entre a sua inteligência e o mundo, vais deixa-los sorver tudo tão directamente que sentirás que morres no prazer e no horror dilacerante. Cedo, todavia, será que te aperceberás que o intelecto se tornou, no despertar real dos canais físicos, sagaz e excelente."

"Meditai sobre aquela digestão que procede debaixo, para cima. Somos fome pura e despida de conceitos, e nisto jaz a nossa primeira virtude, uma virtude caída e denegrida, mas também um poder iluminado e ascendido.
Atentai uma vez mais. Como têm sede.., como a temem e a matam sem respeito. Ninguém acreditaria, meu amor, se disséssemos nas suas próprias palavras que a função da sua sede é matar, que a função da sua sede não é ser morta, qual absurda impossibilidade."

"Entre nós, não existem barreiras na carne devido ao mesmo que a transcende e que a é. O que, por conseguinte, estas criaturas que se passeiam em multidão cometem, é um incesto de estripe menor, não digna, na verdade, de ser intitulada de incesto."

Retirado d"As Cartas de Mesh-ki-ang-gasher"


André Consciência


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

5 da Manhã Visto da Janela


Brother Wolf, Sister Moon - "The Cult" ao vivo em 2009



Um senhor faz passear o cão branco debaixo do azul negro que o desnorteia. Do outro lado de uma porta há vozes que discutem coisa nenhuma, iradas com a ausência da vida e com a presença dela. Um individuo escapa do burburinho, trôpego de febre, perdendo-se nos ângulos entre a escuridão no céu e a noite absoluta da calçada. O cão continua a fitar uma direcção de paredes mudas e ruelas vazias. A noite é uma amante sem sexo... esse é o seu sexo, e derrama-se nas vozes iradas, no silêncio da calçada, no esgar canino e no vazio das ruelas. Cá dentro, a estalajadeira, emparedada na estalagem, escutou-nos o riso.


O meu corpo desenvolve-se no teu,
E as janelas para o jardim,
Para todos os jardins do mundo
No vulto nu da tua saudade
Fazem tombar as estrelas
Arder florestas que nunca cresceram
A altura das nuvens, desaparece,
E a face do céu é branca
Em todos os sinos de todas as vilas
Baloiçam as tuas ancas.

sábado, 19 de setembro de 2009

David e Golias no Vale das Sombras


David e Golias no Vale de Elah - Gustave Doré

Um era um amante triste, outro um gigante.
O amante esperava pelo que já não vinha, olhava pela janela e suspirava. O gigante não conhecia janelas, corria o mundo sem cansaço, e rugia.
Encontraram-se no circo, onde actuaram juntos e se tornaram inseparáveis, o gigante fazia o número de morto e o amante de assassíno.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Queimadura do Gelo

Dedicado à Alexandra

PETE WHITE, Odin's Sacrifice, 2000

Sento-me, trémulo na espera, e procuro respirar com dignidade. Escuto o zumbido molhado nas paredes de pedra, a claridade móvel e cristalina, como se fosse um túnel ali onde fica. Tento distrair o zumbido. Penetro dentro do meu próprio ser e arranco de mim mesmo o grito de Odin. As suas histórias, uma brancura a lavrar as minhas recordações, tornam-se nas aventuras da minha alma calejada, esculpida e forjada como gelo no fogo ao longo dos anos. O tempo é para sempre, o som ensurdecedor da fome e da pele a esticar tornaram-se no silêncio da árvore. Toda a minha vida estive aqui, nesta pedra nua, acolhido pelas estrelas longínquas para as quais não adivinho (nunca o consegui, mesmo quando elas me queimaram o olho direito) um significado. Por golpe da sua luz escancaram-se as portas de todos os mundos, e apertam venda após venda. Por isso sento-me, já sentado, e não sei já se tremo, o meu corpo é uma memória e as sensações um pensamento de estrelas.
Como podem os meus temer-me tanto, ou respeitar-me? Eu, que nada sou ou tive direito a ser, além de uma resposta aos teus desafios, Pai? Estudei as runas, aprofundei-as até à força de envelhecer os meus ossos pesados, levei uma vida de batalhas, mesmo se nunca quis matar e me envergonha derramar sangue mais fraco, e não me atingiu sequer um vislumbre, que fosse digno de ti.

Aproximavam-se dois lobos, não hesitantes mas proficientes, em círculos por volta do gigante de gelo e do fogo do seu coração. Geri e Freki, pensou o sábio guerreiro, e quando o derrubaram por terra não resistiu, procurou, apenas, respirar com dignidade.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Portugal Progressista?



Antigamente, as questões do amor estavam mais ligadas à etiqueta do que no presente, por exemplo, filho de barão casa com filha de barão, e os casamentos eram quer política quer estratégia de negócio. Instalaram já há algum tempo uma nova Vesta em Nova York (por mérito de França e da sua revolução), e a chama que uma vez preservava toda a Roma é agora a Chama da Liberdade - a Liberdade é, cada vez mais, a Luz guia e o calor que alimenta a nossa civilização. Hoje, o ideal do amor começa também a ser a liberdade (tendo, no geral, ramificado para a leviandade).

Na Idade Média adoptamos o patriarcalismo hebreu e o prazer e a matéria eram vistos como "maus", ainda, Agostinho determinou que o sexo era a fonte de todos os pecados, e devia ser um sacrifício apenas justificável quando para procriação. Entre os atenienses, o sexo teria de ser produto da submissão e da dominação - as mulheres eram totalmente desvalorizadas. A seguir, com a ascensão da burguesia, a nudez deixa de ser vista com naturalidade, e o sexo não deve ser falado, a informação dos livros é controlada. A partir de 1870 começou a aparecer uma espécie de ciência sexual. Continua a questão dos nascimentos legítimos e dos não legítimos (a ideia é o controlo populacional).

Com a mulher a ir trabalhar então o sexo (em vez do dever) passa a ser visto como a base do casamento. Mas ainda ha a necessidade de uma contra-cultura: por exemplo, o movimento de luta pelos direitos civis e os hippies que aceitam o sexo fora do casamento, o aborto, a nudez, e.t.c. A liberdade sexual era símbolo da liberdade social. Resulta a celebração do prazer e a independência sexual. Os casais passam a poder constituir família sem filhos. Os homossexuais passam a poder ter espaços próprios, diminui o tabu sobre a sexualidade das crianças. Agora, com todas as liberdades, o sexo passa a ser o produto principal do consumismo, toda e qualquer propaganda passa a ter uma referência ao sexo, a luta pela liberdade sexual da mulher é estigmatizada: para comprar um pacote de cereais nada melhor que a imagem de uma mulher semi-nua em poses sugestivas. A liberdade ficou assim manipulada, a cenoura pendurada à frente do focinho do burro conduz o burro e descansam-se um pouco as rédeas. Agora, tudo parece mais confortável. pu** da cenoura! Está quase! Tiro na cabeça.

A sociedade que vivemos hoje conseguiu avanços quantitativos, os tabus afrouxaram, mas, esquecendo-se dos avanços qualitativos (afecto, humanização), o nosso sexo é mecânico.

Mudamos agora a palavra “amor”, para a palavra “patriotismo”, a palavra “sexo” ou “sexualidade” para a palavra “progresso”, e revemos o texto. Depois continuamos. Ao individuo move-o o amor, mas ao ser social move-o o ódio, o medo e a inveja. Assim, face ao progresso, a opinião pública tende a opor-se, no sentido de salvar a identidade, criança que procura não evoluir com medo da morte (um exemplo que evoco à memória é o facto do PS/PSD permanecerem no poder, apesar do interminável e enjoativo queixume). Portugal é um país que já morreu. Morreu, a titulo alegórico, com D. Sebastião e espreita-nos, como um grande fantasma, da névoa. Agarramos-nos à carcaça e arrastamos-la pela Região, que se tornou ninho de vermes, cães famintos, e criminosos. O mais comum dos cidadãos é educado a pensar como um escravo ou como um ladrão, porque, sem identidade, sem alma, todo o sistema, ou os seres sociais que compõem o sistema, vagueia fora da lei ou dentro da tirania. O saudosismo cria uma fronte de batalha pelos valores da terra, da história, do património cultural, edifica deuses como D. Afonso Henriques ou ainda Viriato, numa tentativa de recordar os cães de que um dia tiveram um dono e também uma matilha. “Houveram deuses, não venha então o medo. Preciso de uma razão para ser eu mesmo. Criaram aquilo que sou, por isso sei que sou eu mesmo.” Constituem-se esforços pelo tribalismo de um lado, do outro um Portugal desesperado (que morreu ainda infante) chega a sugerir o seu “velho” e virtual império, desta vez debaixo da bandeira cultural, destacando-se sobre os países pobres do nosso falecido colonialismo, enquanto por outro lado o progresso, todavia, dirige-se à universalidade, a moralidade do cientista aponta que a ciência é para o mundo, e não para uma nação em específico (excluímos a divisão ocidente/oriente). O progresso indica as liberdades, os privilégios, os prestigios, os direitos humanos (o desejo está a tornar-se sinónimo de direito) e, numa palavra, o individuo. Não obstante, o burro e a cenoura voltam a penetrar o cenário. Igualdade = direito de consumir. Fraternidade = supermecado. Luz = dinheiro. Somos produtos à venda dos nossos produtos. Como se ensina a liberdade a pessoas que conhecem apenas a promiscuidade e a arte de escravizar, mentir, e manipular? O progresso moderno tem um só ideal, a Verdade, inseparável da liberdade, porque toda a mentira é construção do medo e o medo pai de toda a opressão. Todavia nós nada sabemos desses conceitos, ficámos perdidos na névoa, com D. Sebastião, o Rei que faria do Mundo o Império de Cristo. As nossas maiores mentes sentiram esse medo da verdade e da morte tanto quanto o vulgo saca-carteiras, por isso criaram obras como “A Mensagem”, para se esconderem e ao seu povo dentro da redoma da superstição. “Alento Portugal! Alento! Afinal, somos um povo de suspiros.” É importante é dormir, porque a dormir sonhamos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Circus Infernalium (excerto)




II

A rapariga solta violentamente a mão da mão do rapaz. "Retira, nesse caso, a máscara!"

Recebe um espelho e, colocando-se em frente ao rapaz, segurando-o a nível do coração, começa a falar sem som.

Faz-se um silêncio tremendo.
Depois começa a surgir som nas palavras:
"(...) a violência dos seus braços é a mudez do teu nome. Vê-me! Vento e Sol que se põe e a voz do nigredo no vento que tu ouves, «não salvarás», «não salvarás», és um de nós! Massa orgânica desesperada que quer sangue e esperma e dor cantada! [pausa surpreendida e deixa cair o espelho que se quebra] Pedem ajuda! E tu sentes tanto... Tanto. Tanto! As palavras deles começam a sair por ti mas tu nem sequer as apanhas e é por isso que tens tantas mascaras não é?"

O rapaz, que uiva e ri ao mesmo tempo, repete:
"É oan saracsam snet euq ossi rop é e sahnapa sa reuqes men ut sam it rop rias a maçemoc seled sarvalap?"
Abana a cabeça e diz: "Os desassossegados expressam-se por mim, em arte, e libertam-se..."
Ela responde: "Tu não podes liberta-los!"
"Não?" pergunta e ri-se.
Ela: "Não! São olhos velados que não podes libertar. São olhos velados que vêem tudo, e tu não vês tudo ainda, por isso não apodreces com a mesma rapidez mas as coisas apodrecem através de ti."

Ela apanha dois pedaços de vidro partido e coloca-os sobre os olhos:
"Não existe escapatória fora da ilusão de que o Sol renasce. O Sol só existiu uma vez e a sua viagem pela escuridão depois, foi para sempre. É esse o olho que te observa e o mudo e hórrido grito é o sonho pútrido de todos os mitos humanos."

Ele ri-se bem disposto e ela larga os vidros e ri-se e dão as mãos, animados, enquanto cantam uma canção de embalar sem palavras.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Niilismo Místico, a Estética e a Beleza





Carpocrates - Gnóstico Alexandrino

De bases platónicas e influências cristãs, ensinava-nos Carpocrates da existência de um primordial, e que anjos, muito afastados desta fonte, contrairam a doença da criação (divisão), numa espiral descendente rumo à decadência. Estes Construtores-do-Mundo aprisionaram as Almas Caídas, o princípio primordial em cada um de nós, em túmulos de carne e osso, e por isso as Almas percorrem a forma e experimentam a metamorfose. O Adversário é o Mensageiro entre o Homem e o Primordial por via do Juíz (o mais alto entre os poderes criadores). O mundo não foi criado por Deus mas é uma sombra da sua Luz e em si mesmo, não é bom nem mau, é totalmente indiferente a e despido de valores. A forma do homem se elevar acima dos seus próprios dejectos é fazer a alma lembrar-se, abrindo os olhos, através das várias experiências que descrevem a vida.



Nikos Kazantzakis e o Niilismo Heróico


"Não espero nada. Não temo nada. Sou livre"
-em grego: Δεν ελπίζω τίποτα. Δεν φοβούμαι τίποτα. Είμαι ελεύθερος

"Eu sou o marinheiro de Odysseus com coração de fogo mas de mente cruel e limpa."
- Toda Raba (1934)

"Sou fraco, efêmera criatura feita de barro e sonho. No entanto, sinto todo o poder do universo a girar dentro de mim."


Do "The Saviors of God" (1927; Versão inglesa 1960):

We have seen the highest circle of spiraling powers. We have
named this circle God. We might have given it any other name
we wished: Abyss, Mystery, Absolute Darkness, Absolute Light,
Matter, Spirit, Ultimate Hope, Ultimate Despair, Silence.
We come from a dark abyss, we end in a dark abyss, and we call the luminous interval life.


A expressão “niilismo heróico” tem sido usada com total aceitação pelos críticos de Kazantzakis, para designar o niilismo activo de Nietzsche aplicado às obras de Kazantzakis. A substituição do termo “activo” por “heróico” deve-se à presença da força dionisíaca na descrença em relação aos valores do mundo. O princípio do niilismo heróico fundamenta toda a peregrinação ascensional do texto de Kazantzakis. O herói, tal qual Zaratustra, empreende um itinerário activo, calcado na auto-superação e na instituição de novos valores auferidos por essa superação. Cada etapa da jornada tem o carácter niilista de não se crer em nada, de escapar das imposições morais e conceituais que dificultam a libertação. Toda a ascese protagonizada por Ulisses é um tratado de libertação de todas as máscaras culturais e valores, sejam metafísicos ou platônicos, pisando nos degraus da não-crença.
O herói é o autor dessa subida, inaugurando um combate perigoso, que o deixa sempre à beira do abismo, por travar a luta entre o mundo socrático – ou ainda cristão – e o mundo dionisíaco. O herói irrompe da própria natureza e concentra em si tudo que é vital e instintivo.
Diante do abismo e pisando nos degraus do nada, o herói ainda combate e não esmorece. O niilismo heróico vê-se nessa vontade de potência, vital, de criar ou recriar o que o herói vai destruindo a passos transvalorizadores.

(...)

Assim, como edificar um novo mundo sem bases para a sua fundação? Como cantar as glórias de um herói que almeja o esquecimento e a perda do seu nome? É deste modo que a epopéia moderna de Kazantzakis, apesar de lançar-se como um canto de restauração do mundo épico perdido, guia-se pela relação entre o cantar (fazer poético) e o pensamento (verdade). Visão subjetiva e criativa, o pensamento é o próprio acto de engendrar e de constituir o discurso da verdade, porém perecível e dissolúvel como a vida. Assim que se dissolvem os laços vitais, apagam-se o pensamento, o mundo, a criação; a verdade constituída pelo poeta (cantor) morto retorna ao nada, e assim alcança ele a real libertação, mais além da necessidade de criação e verdade.

Carolina Bernardes


Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje! — NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, §125.



“Esse ponto de contacto interior, apesar de toda a sua importância, não é, entretanto, mais do que um ponto. Após o longo período de materialismo de que ela está somente a despertar, a nossa alma encontra-se repleta de germes de desespero e de incredulidade, prestes a soçobrar no nada. A esmagadora opressão das doutrinas materialistas, que fizeram da vida do universo uma vã e detestável brincadeira, ainda não se dissipou. A alma que volta a si permanece sob a impressão desse pesadelo. Uma luz vacilante brilha tenuemente, como um minúsculo ponto perdido no enorme círculo da escuridão. Essa luz fraca é apenas um pressentimento que a alma não tem coragem de sustentar; ela pergunta-se se a luz não será o sonho, e a escuridão a realidade. Essa dúvida e os sofrimentos opressivos que deve à filosofia materialista distinguem a nossa alma da alma dos primitivos. Por mais levemente que se lhe toque, a alma soa como um vaso precioso, que se encontrou rachado na terra. É por isso que a atracção que nos leva ao primitivo, tal como o sentimos hoje, só pode ser, sob sua forma actual e factícia, de curta duração.

Salta aos olhos que essas duas analogias da arte nova com certas formas de épocas passadas são diametralmente opostas. A primeira exterior, será sem futuro. A segunda é interior e encerra o germe do futuro. Após o período de tentação materialista a que aparentemente sucumbiu, mas que repele como uma tentação ruim, a alma emerge, purificada pela luta e pela dor. Os sentimentos elementares, como o medo, a tristeza, a alegria, que teriam podido, durante o período da tentação, servir de conteúdo para a arte, atrairão pouco o artista. Ele se esforçara por despertar sentimentos mais matizados, ainda sem nome. O próprio artista vive uma existência completa, relativamente requintada, e a obra, nascida de seu cérebro, provocara no espectador capaz de experimenta-las, emoções mais delicadas, que nossa linguagem é incapaz de exprimir.”

Wassily Kandinsky



Como Expressado em Friedrich Hölderlin

“Ai de mim, perambula na noite e habita como que no inferno, sem o divino, a nossa geração”

A canção de Hyperion


Oh santos génios! Vós caminhais,
lá por cima, em luz, sobre terra suave.
Brilhantes deuses etéreos
Tocam-vos levemente,
Qual os dedos da artista
nas cordas santas

Sem destino, como a criança
Adormecida, os anjos respiram;
Castamente guardado
Em discretos botões,
O espírito floresce-lhes,
Eterno,
E os santos olhos
Vêem em silenciosa
E eterna claridade.

Nós, porém, fomos condenados a errar,
Sem descanso, p’la terra fora.
Ao acaso, de uma
Hora para a outra,
Os homens sofredores
Somem-se e caiem,
Como a água atirada de
Recife para recife,
Ano após ano, na incerteza.




O Poema Conciso

Porque és tão curto? Já não amas, como noutros
Tempos, o cântico? Nesse tempo, ainda jovem,
Quando em dias de esperança cantavas,
Nunca encontravas o fim.

Como a minha sorte, assim é minha canção. Queres-te
banhar, feliz, no pôr do Sol? Já passou! E a
Terra é fria e o pássaro da noite sibila,
Incómodo, perante os teus olhos.





II




“(... ) compreender a negatividade na arte moderna como a expressão mais potente da experiência espiritual a que dá lugar a ausência da experiência religiosa.”
Vega

“o sagrado é uma parte da estrutura da consciência e não um estádio na evolução da consciência. Ou seja, não houve uma época em que as coisas eram mais espirituais do que hoje. (...) Vivemos numa época que não o reflete ou encoraja ou foca da maneira que outras culturas o fizeram no passado onde a religião era dominante. Mas não significa que não esteja lá.”
Mircea Eliade


"O silenciar dos nossos sentidos físicos conduz muito mais facilmente à experiência das coisas espirituais; da mesma maneira, o silenciar de nossas faculdades espirituais conduz a um conhecimento experimental de Deus, tanto quanto este seja possível, através da graça, na vida presente."
A Nuvem do Não-Saber, Anónimo




O Dialecto da Beleza:

Balthazar dizia que a morte era a morte tanto no Mundo como em Deus, no propósito de uma vida plena. Para Balthazar, a Beleza é o todo no fragmento, pensamento interno à lógica da presença da ausência e da ausência da presença.

Para Tomás de Aquino, a beleza brota do jogo entre o efémero, mostrando-se um momento de vida que caminha em direcção à perfeição, e assim de encontro a Deus e à redenção de tudo o que existe. É ao aproximarmo-nos do nada que o tempo se preenche de maravilhas, e quando o mal passa o artista vem mais tarde a encontrar formas belas para o caos e a desordem que o caracterizaram: a beleza mostra-se vitoriosa através do fim.

Para Dostoevsky, é importante desmascarar a beleza do inferno, da degradação, a beleza regozija-se no desespero e o nada revela-se. O niilismo e a redenção unem-se no objectivo da liberdade. O homem é um ser trágico e eterno, entre este e o outro mundo, e a sua única possibilidade de felicidade é a renúncia à liberdade.

O Deus de Raskolnikov mergulhou com o homem no Abismo, e o homem pode, perante a luz negra do niilismo, entregar-se à transparência do amor, ou à inércia.



Exemplificado em Herberto Helder


O Amor em Vista

(...)

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.

Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

Herberto Helder

domingo, 16 de agosto de 2009

Luz Serpenteante




Liza Minelli sintetizada em Siouxie Sioux para estética de final de milénio




Literatura Obscura Medieval do Século XVIII (E a Escola Inglesa)

O gótico começa com a desilusão para com as ideias racionalistas, a tribo sentimentalista, de sonhadores que estão contra o materialismo e a favor do iluminismo (embora o desafiasse pela exposição sem pudor do caos) - a estudar também o estilo barroco. Surge em oposição à filosofia neoclássica, e buscava os temas mais reprimidos da psique humana, os seus medos, aproximando o simbólico e o obscuro, o verificavel e o sobrenatural. Politicamente, repare-se no significado do seguinte: padres malignos em catedrais misteriosas, e ariostocratas maléficos em castelos abandonados.

A arquitectura dos espaços dos homens é claustrofóbica, e a natureza exalta o terror pela vastidão.


Século XVIII:
O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole
The Old English Baron, a gothic story (1777)
The Recess; or, A Tale of Other Times (1783-1785)
Charlotte Smith, autora de Emmeline
The Orphan of the Castle (1788)
The Castle of Wolfenbach (1793)
The Mysterious Warning (1796)
Clermont (1798)
The Orphan of the Rhine(1798)
Zofloya, or, The Moor: A Romance of the Fifteenth Century (1806)
Vathek (1786)
Anne Ward Radcliffe (1764-1823)
The Castles of Athlin and Dunbayne (1789)
A Sicilian Romance (1790)
The Romance of the Forest (1791)
The Mysteries of Udolpho (1794)
The Italian, or The Confessional of the Black Penitents (1797)
Northanger Abbey (1818), Jane Austen
The Monk (1796)
Les Crimes D'Amour (1800)
The Pursuits of Literature (1796), de T. J. Matthias
Melmoth, the wanderer (1820)
Frankenstein, or The Modern Prometheus (1820)
The Strange Case of Dr. Jeckill and Mr. Hyde (1886)
The Island of Dr. Moreau (1896), de H. G. Wells
Dracula (1897) de Bram Stoker
Carmilla (1872)
The Picture of Dorian Gray (1891) escrito por Oscar Wilde
Edith Birkhead (1921) The Tale of Terror.
Montague Summers (1938) Gothic Quest
Devendra Varma (1957) The Gothic Flame
Victor Sage (1985) Horror Fiction in the Protestant Tradition
David Punter (1996) The Literature of Terror
Maggie Kilgour (1995)The Rise of the Gothic Novel, Routledge
Fred Botting (1996) Gothic, Routledge




O Romantismo do Século XIX (E a Escola Francesa)

O Romantismo do século XIX (eu sei, a importancia alemã), que, de intelectualidade rebelde, buscava o nacionalismo, o individualismo, o drama humano, condecorado de lirismo e de subjectividade. Aqui busca-se o exótico, o selvagem, a liberdade... O romantico idealizava uma sociedade à imagem da sua alma, exaltava a mulher, e procurava escapar à realidade.

A natureza é utilizada neste movimento de forma a exaltar os sentimentos e os paraísos artificiais florescem.

Continuando em França, o impressionismo, em que o que o homem vê não são os objectos mas a luz (preste-se atenção a isto), passando então a pintar não em estúdio mas ao ar livre, e o expressionismo, mais preocupado com a interiorização da arte do que com a sua exteriorização, dando-se importância à mensagem oculta de cada obra. Nos anos 20 de Paris o surrealismo, centrado no psicológico, liberto da lógica e da razão, para lá do quotidiano e boca aberta do inconsciente. Aqui a rejeição a valores estáticos como pátria, família, religião, trabalho e honra, realçando e louvando um novo elemento, o humor. Começa a escrita automática e um ingrediente comunista, a arte é dos homens comuns, não dos génios.

No século XX o modernismo, que clama que as formas tradicionais de arte foram ultrapassadas, golpe desferido pelos impressionistas e simbolistas (eu sei, a importância alemã), e por Nietzsche (que matou Deus) depois Freud (que nos diz que as impressões do exterior advêem dos impulsos interiores e que assim o exterior não é absoluto e por si mesmo) e Jung com o seu inconsciente e o seu inconsciente colectivo. A ideia era que, em vez de re-aproveitar as técnicas antes conseguidas, se começasse inteiramente de novo (em paralelo com o advento da teoria da relatividade na fisica, por exemplo, e portanto num panorama em que a realidade perdera a solidez).

Continuando com os franceses, explore-se a cultura de cabaret com o seu teatro, as suas comédias, canções e danças, as mulheres e a volúpia, o criticismo e a liberdade de expressão.



Do Romantismo:
Francisco Goya
Bocage
Sturm und Drang
Arte moderna de Giulio Carlo Argan
Eugène Delacroix
William Turner
William Blake
Edward Young
James Thomson
William Cowper
Robert Burns
Byron
Shelley
Keats
Goethe
Schiller
Herder
Friedrich Schlegel
Novalis
Friedrich Hölderlin
Stendhal
Victor Hugo
Musset
Leopardi
Manzoni
Almeida Garrett
Alexandre Herculano
José Espronceda
José Zorilla
José de Alencar
Walter Scott
Balzac
Beethoven
Chopin
Tchaikovsky
Felix Mendelssohn
Liszt
Grieg
Brahms
Verdi
Wagner
Pucinni
António Feliciano de Castilho
Camilo Castelo Branco
Soares de Passos
Júlio Dinis
João de Deus
Gonçalves de Magalhães
Gonçalves Dias
Álvares de Azevedo
Casimiro de Abreu
Fagundes Varela
Junqueira Freire
Castro Alves



Modernismo:
Macunaíma
Klaxon
Antropofagia
Friedrich Nietzsche
Søren Kierkegaard
Sigmund Freud
Carl Jung
Salon des rejects
Manet
Stéphane Mallarmé
Torre Eiffel
industrialização
Gustav Mahler
Gustave Flaubert
Arnold Schoenberg
Kandinsky
Der blaue Reiter
cubismo
Picasso
Georges Braque
Joseph Conrad
Virginia Woolf
James Joyce
T.S. Eliot
Erza Pound
Wallace Stevens
Guillaume Apollinaire
Joseph Conrad
Marcel Proust
Gertrude Stein
Wyndham Lewis
Marianne Moore
William Carlos Williams
Franz Kafka
Igor Stravinsky
Matisse
Mondrian
Le Corbusier
Mies van der Rohe
Walter Gropius
Frank Lloyd Wright
John Maynard Keynes


Expressionismo:
Mendelsohn
Die Brücke
Van Gogh
Edvard Munch
art noveau
Paul Klee
Henri Matisse
Paul Gauguin
Ernst Ludwig Kirchner
Emil Nolde
Bauhaus
advento da abstração
Vassíli Kandínski
August Macke
Diego Rivera
Jackson Pollock


Impressionismo:
Impressão, nascer do sol (1872)
Claude Monet
A luz e o movimento
Edgar Degas
Renoir
Edouard Manet
Washington Maguetas


Surrealismo:
Max Ernst
René Magritte
Salvador Dalí
André Breton
Luis Buñuel
Guillaume Apollinaire
Paul Éluard
Louis Aragon
Benjamin Péret
Jacques Prévert
Alberto Giacometti
Antonin Artaud
Juan Miró


Cabaret:
Josephine Baker
Madame Satã
Le Chat Noir
Moulin Rouge
La Goulue
Yvette Guilbert
Jane Avril
Mistinguett
Le Pétomane
Henri de Toulouse-Lautrec
Folies-Bergère
Charles Aznavour
Jacques Brel
Serge Gainsbourg
Edith Piaf
The Swingle Singers
Buntes Theater
Werner Finck - Katakombe
Karl Valentin - Wien-München,
Claire Waldoff
Kurt Tucholsky
Erich Kästner
Klaus Mann
Marlene Dietrich
Karl Farkas
Werner Finck
Dora Gerson
Dieter Hildebrandt
Erich Kästner
Ute Lemper
Klaus Nomi
Dieter Nuhr
Volker Pispers
Alf Poier
Gerhard Polt
Jura Soyfer
Kurt Tucholsky
Karl Valentin
Karin Berri
Tineke Schouten
Bert Visscher
Najib Amhali
Brigitte Kaandorp
Wim de Bie
Louis Davids
Sanne Wallis de Vries
Freek de Jonge
Herman Finkers
Javier Guzman
Raoul Heertje
Youp van 't Hek
Toon Hermans
Wim Kan
Kees van Kooten
Theo Maassen
Wim Sonneveld
Hans Teeuwen
Jochem Myjer
Hans Liberg
Claudia de Breij
Karen Akers
Joséphine Baker
Kaye Ballard
Laurie Beechman
Ann Hampton Callaway
Liz Callaway
Peter Cincotti
Rosemary Clooney
Bob Dorough
Michael Feinstein
Ella Fitzgerald
Murray Grand
Hildegarde
Billie Holiday
Lena Horne
Eartha Kitt
Nancy LaMott
Peggy Lee
Jay Leonhart
Dorothy Loudon
Amanda McBroom
Susannah McCorkle
Carmen McRae
Bette Midler
Liza Minnelli
Mark Murphy
John Pizzarelli
Faith Prince
Kenny Rankin
Annie Ross
Bobby Short
Nina Simone
Frank Sinatra
Jeri Southern
Barbra Streisand
Elaine Stritch
Julie Wilson
The Butterfly Club
Le Lido
Lapin Agile
Cabaret Voltaire
Tropicana
The Blue Angel
Can Can



Os Beatniks (e a Escola Americana)

Agora na América (mas ainda baseado na boémia francesa), os Beatniks, 1950-1960, um grupo de escritores, cujas características se provavam pela obscenidade alargando as permissões da censura. Boémios hedonistas que celebravam a espontaneadade criativa, eram viscerais nas suas palavras e no experimento da combinação das suas palavras, procurando através disto um entendimento espiritual aprofundado.


Geração Beat:
Howl (1956) de Allen Ginsberg
Naked Lunch (1959) de William S. Burroughs
On the road (1957) de Jack Kerouac
Neal Cassady

Ecos da Geração Beat:
Hippies
Punks




Os Oitenta e os Noventa

Nos oitenta, começa a aparecer a música, que continua nos 90 e então se difunde um pouco nos derivados do Metal: Gothic Metal, Doom Metal, Metal Sinfonico e Dark Ambient.


Anos oitenta e noventa:
Joy Division
Bauhaus
The Sisters of Mercy
Siouxsie and The Banshees
Alien Sex Fiend
London After Midnight
Faith and Muse
Clan of Xymox
e.t.c.





Cinema:

Faltou falar das influências no cinema, embora muito esteja incluído no expressionismo:

Temos Georges Melies, o ilusionista, que começou a filmar em 1896:

The Devil's Castle

The Lady Vanishes

L'Éclipse du soleil en pleine lune

The Magic Lantern

Infernal Cakewalk

Le Monstre

La Cornue Infernale

Le Chauldron Infernale

Evocation Spirite

Le Voyage Dans La Lune

Les Cartes Vivants




Em 1910, a primeira versão em filme de Frankenstein.

Robert Winer com o O Gabinete do Dr.Caligári.

Fritz Land com o Vampiro de Dusseldrof.

O Der Golem, o Estudante de Praga, e o Alraune (ao estilo de Frankenstein, a menina é uma experiência) de Paul Weneger.

O Corcunda de Notre Damme.

Dr. Jekyll and Mr. Hyde.

The Hound of Baskervilles.

O Nosferatu de Murnau.

O Dracula de Bram Stoker.

O Dracula de Bela Lugosi, The Devil Bat, White Zombie, The Wolfman.

Phantom of the Opera.

The Blackbird.

O London After Midnight, que infuenciou a banda. The Magician.

The Mummy.

I Walked With a Zombie.

Cat People.

Vampyr.

Freaks.

Entrevista com o Vampiro.


As listas não estão, obviamente, completas.


A subcultura, culta, apenas dispersa, não unida, sem a devida capacidade para causar uma mudança social significativa, ainda que, cada vez mais, conquistando espaço. Aqui os eruditos encantados, os cientistas feiticeiros, os pensadores do apocalipse, suficientemente atentos para clamar: uma alma sensível encontra beleza mesmo no terror dos destroços, e da ruína da sua época e da sua civilização ela ergue o intelecto e a luz como uma chama impossível de extinguir.




Curiosidades
1:
Lembrem-se que Streisand começou nos cabarés. Aprendeu o estado de "diva" com as drag queens e tinha um público vasto de fãs homosexuais que frequentavam os locais de cabaré.

O Frank Sinatra e o seu jazz não são propriamente música de cabaré, no entanto o cabaré era uma temática que expunha, e movia-se dentro do meio, actuando também em cabarés. Muita da música de cabaré pode até ser ouvida em clubes de jazz, a diferença sendo que o cantor de cabaré se foca no teatro musical e no caracter intimista (e nisto o Sinatra podia ser um expert).

A Garland fazia cabaré, entre as coisas pelas quais é famosa.


2:
Tolouse-Lautrec

Frequentador assíduo do Moulin Rouge e outros cabarés, o pequeno nobre acaba se acomodando muito bem naquele ambiente tão estranho que seus pais nunca aceitaram em ter o filho. O tema principal das pinturas de Toulouse-Lautrec era a vida boémia parisiense, que ele representava através de um desenho que lembra a espontaneidade do desenho satírico de Honoré Daumier, e uma composição dinâmica que poderia ter sido influenciada pela fotografia e as gravuras japonesas, dois fatores de grande importância cultural no fim do século XIX.

Era atraído por Montmartre, uma área de Paris famosa pela boemia e por ser antro de artistas, escritores, filósofos. Escondido no coração de Montmartre estava o jardim de Pere Foret onde Toulouse-Lautrec pintou uma série de óleos sobre tela ao ar livre de Carmen Gaudin (a modelo ruiva que aparece no quadro "A Lavadeira" de 1888). Quando o cabaré Moulin Rouge abriu as portas ali perto, Toulouse-Lautrec foi contratado para fazer cartazes. Posteriormente ele passou a ter assento cativo no cabaré, onde suas pinturas eram expostas. Nos muitos conhecidos trabalhos que ele fez para o Moulin Rouge e outras casas noturnas parisienses estão retratadas a cantora Yvette Guilbert, a dançarina Louise Weber, mais conhecida como a louca e cativante La Goulue("A Gulosa"), a qual criou o cancan francês, e também a mais discreta dançarina Jane Avril.


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3:
O Anjo Azul

O Anjo Azul mergulha nas entranhas da degradação e da decadência do ser humano sem dó nem piedade. A atmosfera turva e cativante é bastante peculiar para um cineasta bebedor do expressionismo alemão, e é nesse clima sombrio e pesado que Sternberg constrói a sua história, a partir do belíssimo argumento de Robert Liebmann. Mas, sem dúvida, estamos diante de um filme onde a categoria do seu director é o grande destaque.

(...)

A rigor, percebemos que, com o decorrer da metragem, Sternberg homenageia Murnau e seu Fausto - alguém pode encontrar um pouco do humor efêmero de Aurora. Temos, no entanto, um filme com personalidade, que fala por si, que exalta alegrias, emoções e tristezas. Há, também, alusões eróticas impensáveis para a época (Marlene Dietrich, em optimo desempenho, dança e canta com poucas peças de roupa sob seu corpo perfeito).


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4:
Vaudeville


Vaudeville foi um gênero de entretenimento de variedades predominante nos Estados Unidos e Canadá do início dos anos 1880 ao início dos anos 1930. Desenvolvendo-se a partir de muitas fontes, incluindo salas de concerto, apresentações de cantores populares, "circos de horror", museus baratos e literatura burlesca, o vaudeville tornou-se um dos mais populares tipos de empreendimento dos Estados Unidos. A cada anoitecer, uma série de números eram levados ao palco, sem nenhum relacionamento dire(c)to entre eles. Entre outros, músicos (tanto clássicos quanto populares), dançarina(o)s, comediantes, animais treinados, mágicos, imitadores de ambos os sexos, acrobatas, peças em um único a(c)to ou cenas de peças, atletas, palestras dadas por celebridades, cantores de rua e filmetes.



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Sugestão do Dia:



sábado, 8 de agosto de 2009

Promessas 2 *

Orpheus, Jean Delville, 1893




Em ti vislumbro toda a vontade de viver e toda a dor de não se crescer à medida da alma. Depois pela tua questão cheguei a ti, embora tu não a mim. Interrogavas-te sobre a minha religião, sem mesmo me haveres ainda conhecido, quando conhecer-me é morrer.

Minha é a religião que rejeita todos os credos, e aceita somente as coisas, providas das suas maldições e bênçãos, assim como as sentimos dentro de nós. Se para vós, a religião se descreve no conjunto de crenças que recaem no sobrenatural, assim como nos códigos morais que permitem atingir o sagrado, para nós, que vivemos nada mais nada menos como o sobrenatural e o sagrado englobando, não obstante, o caído, o que nos resta adorar além da existência das coisas conforme passamos por elas e elas nos atravessam na invisibilidade dos espelhos?

Porque nós somos dentro das coisas, e porque ousamos rasgar todas as peles, não existe em nós a fé por elas, apenas a fé interna às mesmas, contida e saboreada no laboratório dos sentidos.

Porque somos eterna e amplamente sós, não serão descobertos códigos morais ou sociais que nos conduzam. Não somos ateus, pois não negamos os deuses nos homens, não somos agnósticos pois a dúvida, em nós, não impera, e o deísmo não será uma bandeira na constatação de que a razão, deixada a si mesma, não vale o mais pequeno sopro. Em nós, a virtude e a justiça são consequências da liberdade, em vós, da opressão. Qualquer lugar que pise amaldiçoo e sacralizo, então, se procuras um altar no qual adorar aquilo que começas agora a visualizar no movimento das minhas palavras, busca o espelho, nesse mesmo momento em que, ali, não encontres o teu reflexo.


(...)

Uma diferença, todavia, vem estabelecer-se na medida em que, da amálgama revolta dos sonhos da carne e do espírito da qual provem o mundo, extraímos o fluido luminoso e a treva numa medida perfeitamente regulada, assim, no mundo do espírito aquilo que é fogo virá influenciar a temperatura do nosso corpo no sentido dos graus mais baixos, enquanto que aquilo que é gelo o aquecerá. Devido a esta sensibilidade acrescida e ao manejo aperfeiçoado do mundo oculto, sentimos frio e calor, mas não sofremos de frio, nem de calor.


(...)


A eternidade é a condenação do futuro; é, contrariamente ao que pavoneiam, não o rumo certo da glória daquele por todos amado, mas a errancia.

(...)


Diana, hoje observo-te a brincar, como uma pequena chama ao luar, entre becos e sombras e mascaras de lobos, com um sorriso de criança e a inocência cruel das rosas, e pareces pequena e grande em simultâneo, mas eu sei melhor, sei que és pó. A morte, tudo iguala minha pequena. E embora a tua brincadeira seja mais uma corrida até ao final dos finais, a consciência da imortalidade em mim brinca em passos de dança com o precipício da inconsciência em ti. Por isso mesmo permito-te conhecer alguns aspectos da nossa existência ou, deveria talvez proclamar, inexistência. A minha esperança sopra também nos ventos de que o venhas a espalhar às mentes despreparadas e despedaçadas dos teus semelhantes, pois a anarquia e o caos é o deleite e o vício mortal da eternidade.


(...)



O Vampiro organiza-se em sociedade segundo o modelo anarquista e, simultâneamente, aristocrático, em que o seu sangue é tido como sangue azul e dele é requerida uma certa nobreza dotada de uma etiqueta própria, porém natural, provinda das entranhas, então refinada ao máximo potencial da educação e do conhecimento. Não existe, pois, nenhuma hierarquia e, se alguma pirâmide de estatuto prevalecesse, seria aquela do poder da expressão do semblante de cada membro, sendo que os estados de espírito são, naturalmente, mais ou menos flexíveis.

Todo o Vampiro existe a um nível de igualdade simétrica e inquebrável, sendo porém a individualidade o princípio máximo que regularia esta associação, e por isso, cabe a cada associado trabalhar unicamente aquilo que espelha no mundo a sua particularidade, a sua inspiração e verdade; e assim, o lucro é visto em termos de realização, mais do que pelo cobre, isto é, a moeda de latão.

Esta, seria igualmente a vossa ordem natural, embora uma diferença interna resida em que no homem mortal, a individualidade se caracterize por se ancorar no corpo, dai o intercâmbio do sangue provocar muitas vezes a morte, sendo a nível da alma que o homem mais se mistura e se une com as coisas de forma saudável. Por sua vez, a individualidade do vampiro existe na sua alma, da qual o sangue é a interacção, o seu erotismo, a sua comunhão, compartilha e a sua fertilidade. Se um vampiro arrisca a sua alma, que é a sua maldição, coloca também a sua existência numa situação frágil e possivelmente fatal.



Mesh-ki-ang-gasher

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

É talvez o último dia da minha vida.


Nezahualcoyotl, O Rei Poeta




É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro



It is maybe the last day of my life.
I saluted the Sun, raising my right hand,
But I did not salute him, saying to him goodbye,
I expressed my pleasure to see him instead: nothing else.

Alberto Caeiro
* Traduzido por André Consciência

sábado, 1 de agosto de 2009

Promessas 1 *

HR Giger



Cara Filosofa dos Abismos, folgo em encontrar-te sempre curiosa, também um dia esta ansiedade de descobrir te fará morrer as sete felinas mortes, e nesse dia serás uma de nós. Por agora, satisfaço a tua indulgência na fornalha fraca de palavras poucas, para que talvez um dia possas vir a perceber muito em tudo o que é pouco.

(...)

Esforça-te para conhecer cada um destes animais de cor em ti mesma, e alimentai-vos primeiramente da sua essência. Só mais tarde voltarás o teu dom para as estrelas.

(...)

O prazer é, indecorosa e delicada criatura, uma dilacerante luz guia, uma voz que queima e que abre caminho: não distingue, conhece; em si coabitam todas as vidas livres aprisionadas na experiência, e o seu nome é legião.


(...)

A deficiência de cada Vampiro é assim a particularidade, ou particularidades, do mesmo, sendo esta a sua derradeira e inquestionável perfeição.


(...)

Sim, aqui tens a verdade, não simpatizamos com o Sol da mesma forma que vós, porque vedes nele um potencial salvador e o dador da vida. Nós, fitamos-lo como um opressor e agoiro de cegueira. Contempla que o Sol caminha, tranquilo, pela noite eterna do cosmo, e quando se impõe ali no vosso céu diurno tapa toda a terra num túmulo de falsidade, já distorcido. Apreciamos a noite porque é cada um de nós um Astro Ardente, um Sol, uma Estrela, cada um de nós é o Sol quando o mesmo caminha na noite, e fazemos-lo na Terra. Só nos sonhos vossos ganhamos forma, assim como nas sombras da rua, e nos fantasmas que as mãos ainda desenham e abraçam. Somos os vossos desejos, a vossa dança com a morte, e o vosso trago de um vinho perpétuo. Somos o orvalho quando a donzela do que ainda é puro em vós, se precipita uma vez mais na gravidade da ilusão, e a borboleta se reduz a queimadura no Archote de Lúcifer.


(...)


O sangue dos seres vivos é pois, para nós, como o incenso, gerado da resina das árvores, se afigura para os anjos, ou mesmo como a prece de um coração puro e silencioso o é para Deus. O sangue é o único cântico e o hino único capaz de criar um ambiente sagrado em nosso redor, a partir do qual podemos penetrar as hostes da mortalidade e dos vivos.

Uma vez adquirido pelas nossas formas, este sangue é pois despido das suas limitações tanto como da sua castração, tornando-se numa essência pura ardente, com a qual brindamos, novamente, o mundo cíclico e sistemático dos homens comuns, que, sem as características inerentes à nossa imortalidade, se extinguiria facilmente, como uma vela a descoberto face ao gelado sopro do inferno.




No fogo e na bruma.




Mesh-ki-ang-gasher
* Ha uns anos (julgo), diverti-me a fazer correspondência, em papel, sob este nome. Hoje estava a reler as copias das cartas e hão de se seguir mais dois posts da autoria de Mesh-ki-ang-gasher, sendo que achei peculiar o meu bizarro passa-tempo (do qual aliás hoje já não me recordava).